Neste mês missionário, expressamos nossa solidariedade com a família comboniana. O governo da República do Chade, país situado no centro norte africano, ontem decidiu expulsar o bispo comboniano  de Doba, Dom Michele Russo, que durante uma homilia expressara perplexidade sobre a gestão e a distribuição dos recursos derivantes do petróleo no país. Na opinião do bispo, não há transparência na destinação desse dinheiro, há suspeita de enriquecimentos ilícitos de poucos, enquanto os impactos socioambientais afetam a camada mais pobre da população.

O governo deu uma semana de tempo ao prelado para deixar o país. Espera-se uma abertura de diálogo por parte do executivo.

As autoridades de Ndjamena motivaram a decisão explicando que o missionário comboniano teria desenvolvido “atividades incompatíveis com o seu papel”. Isso porque o prelado teria feito uma homilia, em 30 de setembro passado, na qual criticava a gestão das entradas provenientes do petróleo, denunciando o fato de a população local viver na indigência.

Segundo alguns observadores, encontram-se por trás do episódio alguns interesses tanto por parte da nomenclatura local, quanto por parte das companhias petrolíferas, que há tempo veem o prelado com desconfiança.

O Chade, um dos mais pobres países africanos, produz diariamente em média 120 mil barris de petróleo, e há tempo diversos expoentes da sociedade civil pedem ao governo que invistam os recursos, sobretudo, para melhorar as condições de vida dos cidadãos, inclusive considerando o fato de as autoridades locais terem assumido do compromisso de investir 70% das entradas petrolíferas na redução da pobreza.

Enfrentar o racismo ambiental, em nome de Cristo ressuscitado, inverte os padrões de crescimento e futuro e impele os missionários/as a tomarem posições cada vez mais corajosas: não à agressão descontrolada das indústrias extrativas, não à cumplicidade dos estados para um progresso que continuará a ser de poucos. Sim à vida das comunidades que determinam sua própria gestão dos territórios, dos bens e do futuro. Essa nos parece ser uma nova leitura das bem-aventuranças de Jesus no mundo faminto de hoje.